Pesquisar este blog

29/01/2016

Qualificacao de palestrante cadeirante

Não sei se você sabe, mas eu não sou formado em Marketing e nem tenho pós graduação na área. Caí de paraquedas neste universo de aulas, consultoria e palestras em razão de minha experiência de mercado e por ser autodidata. Não pude evitar que me convidassem para dar aulas ou dar consultoria, mas minha formação mesmo é em Arquitetura e Urbanismo. De qualquer modo, isso é meio caminho andado, pois um processo de entendimento do cliente e desenvolvimento de produto é igual, tanto na arquitetura quanto num plano de marketing.

Mas não fiquei muito tempo na área acadêmica ou na consultoria, tendo ainda passado por áreas de negociação, vendas, comunicação etc. Decidi mesmo fincar bandeira como palestrante e fiquei nisso quando percebi que seria suficiente para me manter e ter tempo livre para me dedicar a meu filho adotivo que tem paralisia cerebral, e também ao trabalho de evangelismo que faço na Web por meio de textos, vídeo e áudio. Este você pode conferir em www.3minutos.net e www.respondi.com.br.

Mas o que tem isso tudo a ver com um palestrante cadeirante, como alguns que conheço? Bem, cadeira de rodas não é impedimento para se atuar numa profissão onde o que se exige não são pernas, mas cérebro. E muitos que conheço, deficientes das pernas e/ou dos braços, têm cérebros dos bons. Portanto, o requisito que muitos acreditariam ser essencial, que é a capacitação, é mesmo, porém ela pode ser formal ou informal.

Meu palpite é que muitos dos grandes consultores e palestrantes que são referência em áreas como a do marketing não sejam pessoas que tenham seguido um caminho formal de educação na área, mas foram juntando retalhos aqui e ali de experiências, tombos e sucessos, até formarem sua bagagem. Por isso creio que a dificuldade maior, não só para um cadeirante, mas para qualquer pessoa seja a falta de experiência. Como contornar isso?

Uma forma seria trabalhar em alguma empresa de consultoria já estabelecida. O cadeirante não deve ter melindres em aproveitar o fato de as empresas hoje serem obrigadas a contratar um número de deficientes. Eu, que sou idoso, não me incomodo nem um pouco em estacionar em vaga de idoso ou passar na frente nas filas de atendimento. A lei me permite, então ajudo a cumprir a lei.

Empresas com 100 empregados precisam ter 2% de deficientes e isso vai aumentando até chegar a 5% para mil empregados. Mas atente para o fato de que a queixa das empresas e das agências de empregos é pela dificuldade de encontrar pessoas para preencherem essas vagas. Deficientes há muitos, porém são poucos os capacitados. A maioria se acomoda em sua deficiência ou faz dela literalmente sua muleta e acaba não estudando e nem se esforçando para entrar no mercado.

Em função da dificuldade de mobilidade o cadeirante poderia dar preferência a trabalhos que pudessem ser feitos em home office, uma modalidade que muitas empresas hoje adotam para reduzir custos e para os profissionais poderem trabalhar de qualquer parte do mundo. Quer ver um exemplo? Meu site www.mariopersona.com.br foi feito por uma jovem da Índia e algumas capas de meus livros por outra da Bulgária. Esta eu contratei através do site www.fiverr.com e a indiana pelo www.freelancer.com Estes e outros sites do tipo fazem o meio de campo para milhares de pessoas que trabalham por conta própria ou até com equipes, como é o caso da indiana que subcontrata outros para executarem os projetos.

Outra coisa que aprendi é que a gente não deve se fixar numa profissão, mas estar aberto a tudo. Eu mesmo já trabalhei de agricultor a vendedor. Também já lecionei (inglês e marketing), vendi desenhos (à mão e em computador), trabalhei anos como tradutor inglês-português de textos técnicos para indústrias e editoras, e em qualquer coisa que caísse em minhas mãos. Quando não sabia como fazer eu corria aprender.

Conheço um consultor que ficou tetraplégico e começou a ministrar palestras. Dei dicas a ele para direcionar sua carreira para palestras de segurança no trabalho, pois é um mercado muito mais movimentado que o de palestras de administração. A tetraplegia dele foi resultado de um mergulho em águas rasas e ele tem uma mensagem bastante impactante para dar a empregados de empresas que, por meio de seu testemunho, veem a importância de ser previdente na questão segurança. Este é outro mercado no qual um cadeirante poderia atuar, dependendo de sua experiência de vida.

Juntando tudo, eu aconselharia o cadeirante que almeja ingressar no mercado de consultoria e palestras a primeiro consultar o Sebrae de sua região, que costuma contratar consultores, ou tentar vaga em empresas visando ocupar as taxas de inclusão que elas são obrigadas a cumprir.

A segunda dica seria verificar se entre suas capacidades, talentos e competências existe alguma coisa que possa virar negócio nesses sites de serviços que faz a intermediação de profissionais autônomos. Muitas empresas pequenas e médias utilizam esses sites quando precisam de serviços profissionais e não querem contratar empregados.

Terceiro, esteja aberto a todas as possibilidades. Se entender alguma coisa de marketing saberá que não é o que queremos, mas o que o cliente quer que precisamos fazer. Talvez no processo você não encontre uma oportunidade para atuar como consultor ou palestrante, mas o que importa? Se descobrir um outro negócio viável isso já ficará de bom tamanho para você seguir com sua carreira. Afinal, até palestrantes como eu não planejaram um dia fazer das palestras um ganha pão. Aconteceu, mas poderia ter acontecido diferente e mesmo assim ficaria de bom tamanho.


Um comentário:

Vivian Reis disse...

Muito bom. Informativo, com detalhes e explicações que podem efetivamente colaborar
para quem almeja iniciar ou dar continuidade na área de palestras (não só mas também)
para pessoas com deficiências físicas ou não.
Acredito que este blogger que já deve ser bem divulgado irá dar um novo horizonte ao universo de palestras, bem como em outras áreas profissionais.
Parabéns, Mário.

Postagens populares